quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lendo Brecht

Bem, primeiramente eu sou ainda um ator em formação e portanto sei muito menos do que eu queria sobre esse dramaturgo, teatrólogo e compositor chamado Bertolt Brecht.

Até por que, ousar falar dele pode me custar retaliações dos brechtianos ortodoxos, mas não tenho a intenção de destrinchar a obra dele ou fingir que eu entendo tudo de teatro épico. Ao contrário, quero apenas relatar meu contato com esse cara alemão do século passado.

Meu primeiro contato com Brecht foi nas aulas de teatro da Escola de Artes da AJPS, com Priscila Nicoliche como professora. A gente estudava as formas de fazer teatro dele. Teatro tem que ser diversão, não pode ser um recurso alienatório; as pessoas tem que ir por que querem ao teatro, se divertirem e refletirem sobre o que viram. Era essa a proposição que me foi apresentada nas aulas.

Dentre os recursos de cena que estudamos o meu preferido foi comentário crítico, quanto o ator se desveste do personagem e comenta a ação, cena, ou os sentimentos da personagem. Tudo para desmistificar a figura do personagem que começa a alienar o público. Ruptura.

Ruptura não só na ação cênica mas também com os moldes do teatro tradicional que nos são enfiados goela à baixo como única forma verdadeira de se fazer teatro. Texto decorado, nada de dança no lugar do texto, teatro só no palco italiano e interpretação stanislavskiana.

Não, com certeza esse não é o único jeito de se fazer teatro no ocidente. Nem no mundo. Até por que as formas clássicas orientais são outras e também são questionadas pelos artistas contemporâneos do Oriente.

"E então ele furou os olhos com os alfinetes da roupa da mãe". É uma frase que eu usaria caso estivesse fazendo Édipo e chegasse ao desfecho do espetáculo. O teatro épico que se afasta da ação, dos personagens, para propor a reflexão. O que leva Édipo a se punir pelo casamento incestuoso, de um ponto de vista crítico?

Aliás essa não é a única relação que posso estabelecer. Antígona, a terceira parte da história de Édipo, cujos versos foram as últimas palavras de Sófocles, foi reescrita por Brecht (que eu ainda não tive chance de ler ou ver).

E onde quero chegar com isso tudo?

Talvez a lugar nenhum. Como eu já disse, sou apenas um ator em formação. Aprendi ontem o que é parábase. Mas quero deixar registrado que não existe apenas uma forma de se fazer teatro. Tanto na criação, na dramaturgia e nas montagens. O que leva alguém a afirmar que as peças didáticas (O Voo sobre o Oceano; A peça didática de Baden Baden sobre o acordo; Aquele que diz sim/Aquele que diz não; A decisão) são quase impossíveis de serem montadas? Com certeza a concepção de um teatro clássico, que leva à risca as rubricas e declama cada vírgula do texto. Ou que só existe um modo de se montar Brecht, como dirão os brechtianos ortodoxos.

Enfim, enquanto prevalecer essa visão preconcebida do teatro tradicional como único válido, Brecht continuará sendo impossível de ser montado direito, ou o teatro épico deixará de ser válido como uma das formas mais interessantes de montagem.

Victor Roriz

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