O processo de elaboração de "A Máquina - Uma Leitura Frankensteinian sobre Hamlet" é extremamente laboratorial. Digo é porque não encontrou seu fim, pelo contrário, estamos no incio de uma jornada.
Começamos com o romance de Mary Shelley, passamos por Shakespeare e rapidamente chegamos a Heiner Muller, Bob Wilson, Lehmann e diante de tantos estrangeiros escolhemos fazer o nosso e encaramos muitos desafios: fragmentar o todo da tradição, fazer da tecnologia um personagem vivo, juntar pedaços em novas paisagens, provocar os olhares e um dos que eu mais gosto: libertar o público do artista, como diz o próprio Bob Wilson.
Ao apresentarmos uma estrutura não linear em que as coisas não são dadas gratuitamente ao público, pelo contrário, ele é convidado e instigado a mergulhar, se afastar, reiniciar, percorrer um caminho único sem saber qual será o ponto de chegada, porque também existem muitos pontos de chegada, propomos um exercício de liberdade assustador (talvez por isto alguns dizem que não entendem) em que cada um é dono do espetáculo que assiste, a fragmentação permite conexões infinitas de arranjos e entendimentos.
Julgo que esta ação é uma das mais politizantes que podemos executar. funciona exatamente na contra mão do bombardeamento midiático que sofremos a todo instante em que as informações já digeridas so servem para acomodar.
Talvez continue sendo esta a resposta para a pergunta "arte para quê?"
Para suverter a ordem. Para tornar alerta. Para reinsinar a pensar.
Para "despertarmos dentre os mortos."
Priscila Nicoliche